O espetáculo que nasce em dois minutos ou dois gols.

-Por todos nós-

25/05/2010

Os heróis de chuteiras

Os mitos são histórias construídas a partir de tradições, costumes e saberes que uma cultura produz geralmente para explicar a sua origem ou seu destino. Um exemplo muito comum das narrativas míticas é o herói. Seja para a antiguidade greco-romana ou para os estúdios de hollywood, este indivíduo, ainda que reuna capacidades extraordinárias que superam os desafios e problemas dos homens, não é imbatível.

A falha, o erro, ou a fraqueza apesar de parecer destruir a força do herói, na verdade constrói o mais profundo ponto de contato entre este ser detentor de qualidades suprahumanas e o homem.
O herói dos livros, quadrinhos ou cinema é semelhante ao 'ídolo real' - com certas ressalvas das proezas sobrenaturais - que muitas vezes ocupa os mesmo lugares que os próprios heróis.

A humanidade tanto do herói quanto do ídolo é o fator que cativa seus admiradores, seus fãs.

O mundo contemporâneo da pós (ou super) modernidade produz heróis/ídolos dos mais diversos tipos. Astros de cinema, cantores e até mesmo animais e pasmem, até políticos!

Mas certamente são poucos heróis/ídolos que se formam a partir de tanta devoção como os jogadores de futebol. Os grandes ídolos do futebol adquirem uma identidade que irmana seus fãs que são capazes de xingá-lo e aplaudí-lo na mesma partida. O jogador que faz o gol do título num dia e no outro perde o penalti que decide a eliminação de seu time. Nada mais que o Herói.


Entre o humano e o divino



Recentemente, o maior herói da história da Argentina, Maradona, que tem até uma igreja à prestar adoração a sua imagem, mergulhou numa aventura cujo capítulo final - que em breve será visto no mundo todo - irá certamente transformá-lo. Muito criticado pelo desempenho da seleção argentina, o atual treinador que já foi ídolo do seu país vestindo a camisa da equipe que agora dirige não será mais o mesmo. O herói tem dois caminhos pela frente. Um deles, a trilha da glória e honra, acima de tudo, poderá consagrá-lo definitivamente como uma divindade na terra platina para além daqueles mais fanáticos.
O outro caminho, de fracasso e humilhação, talvez esvazie os bancos da igreja maradonista e certamente dará chance para um substituto do trono de ocupa há mais de 20 anos. Mesmo um terceiro caminho com bravura e derrota não deixaria a imagem do ídolo intacta. O futuro é imprevisível para Maradona, mas é certo que os ventos tomarão uma outra direção.


O calcanhar de Zico

Ainda que discutível, é difícil não posicionar Zico e Maradona no panteão de ídolos do futebol. O 'Galinho de Quintino' não conquistou o mundo com a seleção a despeito de Dieguito. Na Copa do Mundo em que o argentino se consagrou, Zico foi castigado pelo penâlti perdido durante a partida semifinal que eliminou a equipe brasileira.

No entanto, os anos 1980 fez do Zico um herói rubro negro. Hexacampeão carioca, tricampeão brasileiro (sem contar a Copa União 1987) e campeão da américa e mundial em 1981. Zico foi o homem que transformou o futebol japonês e chegou a Turquia, já como técnico, para assumir o trono de Rei. Rei Artur.
Apesar das passagens pouco marcantes no Uzbequistão (2008), Rússia (2009) e Grécia (2009-2010), a sua imagem do grande ídolo flamenguista, e em certa medida, brasileiro está preservada.

A qualidade do Zico técnico é respeitada, ainda que não tão certa. Porém, há anos que a imprensa ventila um possível retorno daquele que foi o maior jogador da história do flamengo, o grande artilheiro do maracanã, o homem que em campo ora era arco (meia armador), ora era flecha (finalizador frio). A torcida se empolga com essa possibilidade.

Seja como técnico ou diretor de futebol, as portas da gávea parecem bem abertas ao Galinho.
Mas parece que este retorno não deve acontecer tão cedo. Se acontecer.
La Gazzetta dello Sport publicou hoje o interesse do Catania em levar o brasileiro ao comando técnico do time italiano. Para quem passou pelo terceiro e quarto escalão do futebol mundial, disputar o Calcio mesmo num time de menor expressão torna-se mais uma grande oportunidade ao treinador.

Ainda que estejamos no âmbito da especulação, o futuro de Zico mesmo que não seja a Itália tem poquíssimas chances de ser rubro-negro.


Em março deste ano foi firmada uma parceira entre o Flamengo e o CFZ (Clube Futebol Zico), em que atletas seriam negociados entre os clubes com vantagens proporcionais a cada uma das partes e transações.

No momento, a única parte de Zico dentro do gávea é este acordo.
Até na coordenação de torneios de futebol infantil na Disney, o ex-camisa da 10 da seleção participa, mas o Flamengo continua uma realidade vivida somente no passado e na paixão de torcedor.
Zico é um ídolo inquestionável entre os rubronegros. Será que o Galinho de Quintino está disposto a expor suas fraquezas, tal como está fazendo Dieguito?

Zico está preparado para estender seu passado de herói a um futuro tão incerto?

26/04/2010

O que é esse Futebol?

O futebol - fenômeno total, que entrelaça política, cultura, sociedade, religião, paixão, prazer e tudo aquilo que é mais humano - também é um negócio daqueles.

Sobre isso, mesmo entre os mais saudosistas, não há quem negue a sua faceta de mercadoria.

No entanto, o que se tem discutido são as consequências do futebol business para os diversos atores envolvidos, e ao meu ver, o grande desafio estaria em evitar as perversões sociais e éticas decorrentes do modelo de futebol atual.

A inspiração desse comentário provém de uma importante entrevista realizada por Débora Bergamasco e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo.
O entrevistado: a revelação mais badalada do futebol brasileiro dos últimos anos, Neymar, 18.

Não me interessa aqui julgar a opulência e vaidade do jovem por seus brincos de ouro; imóveis e carros de luxo e cabelos alisados - afinal de contas, nisso ele não se difere de muitos outros jogadores badalados.

Não pretendo fazer uma síntese do ótimo trabalho de Débora, mas entendo como necessário mencionar duas passagens que me chamaram a atenção.

Farei isso de maneira bem cartesiana.

1. Já foi vítima de racismo?
(NEYMAR) Nunca. Nem dentro e nem fora de campo. Até porque eu não sou preto, né?


2. Já tirou seu título de eleitor?
(NEYMAR)Não tirei. Nem queria, mas vou ter que tirar.


O que há de errado no que o garoto disse? Afinal de contas, é só um garoto.
Um garoto que pode comprar um carro, uma casa. Pode viajar, fazer filhos e fazer um gol de placa na final de um campeonato. Nada disso me interessa.

Um garoto que NEGA a própria cor de pele. Ele é um testemunho claro pra quem não vê e pra quem não quer ver o preconceito racial no Brasil.

A ilusão da informalidade da malandragem brasileira desfarça o teor de discriminação contido no "Eu não sou preto, né?".
A miragem da democracia racial omite a negação de sua cor ao criar categorias como "pardo" e "mulato". Neymar talvez não saiba o que é, mas sabe que negro não é.

Se existe alguma sutileza que dê outro sentido a fala de Neymar e que poderia até absolvê-lo, certamente só poderia ser percebida no instante que ele responde para a jornalista. Mas aparentemente, não é o caso.

Neymar é só um garoto. Um garoto que "TEM QUE TIRAR" título de eleitor. Um garoto que não sabe quem são os candidatos à presidência. Um ídolo de milhares de jovens iguais a ele. E também é um jovem comum.

O que há de grave nisso tudo?

Seria o Neymar uma exceção, ou todos esses jovens serão adultos mais conservadores que seus próprios pais? Foi até uma pergunta ainda não respondida que fiz a jornalista responsável pela entrevista. Grandes ambições materiais são marcas quase invariáveis nos jovens futebolistas brasileiros. Geralmente, vindos de uma trajetória de vida sofrida e muita superação, os novos talentos se arremessam no mar de riqueza tentando recompensar seu passado humilde.

Mas Neymar há muitos anos tem sido tratado como jóia rara no Santos, e já recebia salário de jogador profissional de primeira divisão do futebol brasileiro. Pressupõe-se que Neymar teria tido condições materiais de ter acesso aos diversos bens culturais inerentes a uma educação de um cidadão.

Não me interessa elaborar hipóteses sobre a formação do Neymar. Mas me interessa entender que lugar o futebol ocupa no meio disso tudo.

Neymar e tantos outros jovens ignoram o que há de mais importante na juventude. A capacidade de transformar. Ainda que, como já escrevi anteriormente, dentro das quatro linhas ele tem sido subversivo.
(Para saber mais, leia o artigo: A Nova Ordem do Futebol).

Aqui vale repetir uma ideia. O futebol é um espelho da sociedade.

O futebol não produz jovens que ignoram sua cidadania. E tampouco os transforma.

O Brasil, diz o ácido ditado popular, o país onde puta goza, cafetão tem ciúmes, traficante é viciado e pobre é de direita, ainda precisa construir uma instituição chamada democracia que depende de uma tradição chamada cidadania.

E o futebol? E Neymar?

Não podemos entender o futebol como uma janela transparente que reflita de forma isenta as tensões sociais.

Também não podemos ignorar o exemplo do Neymar como um reflexo dos problemas de ensino no Brasil.

Esse futebol, no mínimo, não interrompe a continuidade da reprodução de jovens tão alheios a realidade do seu país.

O que é esse futebol?


Confira a entrevista feita por Débora Bergamasco no Estadão.

08/04/2010

Resgate da memória

O pequeno e discreto Portal da Móoca, diferente dos demais sítios dos bairros paulistanos, não é um outdoor de banners dos serviços prestados da região. A simplicidade do layout esconde a riqueza do conteúdo ali disponibilizado.
Além de resgatar os registros dos ancestrais do bairro através dos relatos e fotos dos moradores mais antigos, o Portal divulga as atrações culinárias e as principais notícias relativas aos eventos da Móoca.

Para o AvessodoFutebol, o grande destaque do Portal é o acervo da memória do futebol da várzea da Móoca. Além de um pequeno histórico, o sítio exibe fotografias raras dos escretes cedidas pelos próprios moradores. Times como Cacau FC, Estrela da Mooca, Mem de Sá e até um Peñarol da Móoca. Ao todo são 37 equipes lembradas , além, claro, do maior time do bairro, o Juventus.

A iniciativa é um importante esforço no resgate da memória do bairro, e assim um recorte que contribui positivamente na elaboração do mosaico histórico da capital paulista, sem deixar de ser mais uma fonte interessante da memória do futebol aos apaixonados pelo esporte bretão.

Acesse: www.portaldamooca.com.br

06/04/2010

AS COPAS DO MUNDO E OS MUNDOS DAS COPAS – PARTE 6

NEOMUNDO

Futebol força e a Reconstrução da imagem das nações

1998

Sede: França

Participantes: 32

Campeão: França

Vice: Brasil

Artilheiro (Gols): Suker (6) - Croácia

Média de Público por partida: 43,5 mil

A copa da França já apontava mudanças importantes na Europa ocidental. Com a queda de crescimento vegetativo da população, houve um aumento das imigrações, sobretudo de africanos. Esse dado era perceptível na equipe francesa que contava com muitos negros. Nesse sentido, embora pouco aplaudida pela extrema direita, a conquista francesa proporcionou uma progresso na tolerância étnica e cultural em território francês. Para o Brasil, grande favorito, restou aguardar a continuidade do trabalho de sua seleção e do seu presidente então reeleito no mesmo ano.


2002

Sede: Coréia do Sul e Japão

Participantes: 32

Campeão (Vice): Brasil - (Alemanha)

Artilheiro (Gols): Ronaldo (8) - Brasil

Média de Público por partida: 42 mil

Depois de uma década de investimentos e incentivos, a Ásia seria sede da Copa do Mundo. Com a chegada de Zico no Japão no começo dos anos 90, o futebol se popularizou no país do baseball. No entanto, mais que explorar o novo mercado deste esporte, era preciso aproveitar a chance de consolidar a reação econômica à crise financeira do fim do século XX. Já o Brasil contava com uma seleção e um candidato à eleição mais carismáticos. O time de Felipão e o país de Lula abriam de fato o novo milênio para o Brasil.


2006

Sede: Alemanha

Participantes: 32

Campeão: Itália

Vice: França

Posição do Brasil: Quartas-de-final

Artilheiro (Gols): Miroslav Klose (5) - Alemanha

Média de Público por partida: 52,5 mil

A preocupação européia com o combate ao preconceito, em suas múltiplas formas, retorna na estigmatizada Alemanha. Uma avalanche de publicidade anti-racista percorre toda a competição. Era a copa da igualdade, mas ainda não era da paz. Sérvia e Montenegro jogavam por um país que havia sido dividido, e o Iraque em guerra não reuniu condições de disputar sua chance de ir a copa. O Brasil nunca fora tão favorito, assim como nunca fora tão vaiado com a eliminação acompanhada de fraco futebol.

30/03/2010

AS COPAS DO MUNDO E OS MUNDOS DA COPA – PARTE 5


MUNDO ESPETÁCULO

O Mercado da Bola (1986, 1990 e 1994)


1986


Sede: México

Participantes: 24

Campeão: Argentina

Vice: Alemanha Ocidental

Posição do Brasil: Quartas de final

Artilheiro (Gols): Gary Lineker (6) - Inglaterra

Média de Público por partida: 46 mil

Apesar do gol de mão de Maradona, foi a primeira conquista legítima argentina. Apesar de mais um vice-campeonato, a seleção alemã ocidental chega a sua quinta final, mostrando os resultados de investimentos capitalistas no esporte. E, no Brasil, a recessão econômica impediu que a competição se realizasse no país. Com a gradativa abertura política soviética, a Guerra Fria deixava de dar o tom na orquestra geopolítica mundial. Com a expansão automobilística nos países do Terceiro Mundo, as nações do oriente médio, grandes exportadores de petróleo, tornaram-se os maestros.


1990


Sede: Itália

Participantes: 24

Campeão: Alemanha Ocidental

Vice: Argentina

Posição do Brasil: Oitavas de final

Artilheiro (Gols): Salvatore Schillaci (6) - Itália

Média de Público por partida: 48 mil

Por mais que a motivação de revanche não seja descartada, a conquista da Alemanha capitalista está intimamente relacionada com as repercussões da queda do muro de Berlim no ano anterior. Durante quase 40 anos o povo e território alemão foram divididos em dois mundos opostos pelo sonho frustrado do socialismo e pela realidade cruel do capitalismo. A vitória alemã celebrou e constatou a vitória do capitalismo na Guerra Fria, ao mesmo tempo em que expôs sua perversidade observada pelas economias frágeis dos países do Terceiro Mundo, tal como o Brasil.


1994

Sede: Estados Unidos

Participantes: 24

Campeão: Brasil

Vice: Itália

Artilheiro (Gols): Salenko (6) - Rússia e Stoichkov (6) - Bulgária

Média de Público por partida: 68,9 mil

A maior Copa do Mundo até hoje. Recorde de público, com mais de 3,5 milhões de torcedores. Seleções de etnias, línguas, culturas e história muito diferentes reunidas na "terra da liberdade". Espetáculo e recorde para cobertura televisiva. O futebol tornou-se o terceiro negócio mais lucrativo do mundo, perdendo somente para o tráfico de armas e drogas. Esta foi a última seleção brasileira composta por atletas que atuam em sua maioria no Brasil.



25/03/2010

Football, a revista que faltava à grande paixão


O Brasil ganha, em 5 de abril, uma revista destinada a tratar o futebol com a elegância de uma jogada de Pelé e com a arte de verdadeiros craques da bola e do jornalismo. Não é uma simples revista de futebol. Seu nome, Football, é uma homenagem aos inventores do esporte mais amado do mundo, mas com estilo diferente de tudo aquilo que já foi feito até agora. Uma revista de luxo: nos textos, nas fotos, no projeto gráfico. Em cada edição, novas surpresas.

O fato de Football ser lançada em ano de Copa do Mundo é simples coincidência. Não só a Copa de 2010 e outras Copas fazem parte das atrações de Football já em sua primeira edição. A nova revista, bimestral, tem assuntos para atrair a atenção dos leitores a cada edição. Cada exemplar resistirá ao tempo, como um poema aos dribles de Garrincha ou a recordação de um grande jogo, de uma bela conquista ou de uma inesperada derrota.

Há derrotas que ficam na história como exemplos de dignidade. Um exemplo: a da seleção brasileira diante da Itália por 3 a 2, no Estádio Sarriá, em Barcelona, em 5 de julho de 1982. O jornalista Alberto Helena Júnior estava lá e, como o Brasil inteiro, ficou triste. Na edição número 1 de Football, ele revive detalhes daquele jogo em que um dos melhores times de todos os tempos foi eliminado da Copa e traça um perfil de Paolo Rossi, autor dos três gols italianos. O fotógrafo Reginaldo Manente, então também no Sarriá, registrou os gols em campo, mas foi com a lendária foto de um garoto chorando na arquibancada que ele ganhou o Prêmio Esso. A revista foi ouvir Manente. Nesse conjunto, não poderia faltar um passeio fotográfico pela linda Barcelona.

Ademir Menezes, o Queixada, grande goleador que jamais foi campeão mundial e que estava no Maracanazo de 1950, tem seu perfil revivido no texto criativo de Moacir Japiassu, diretor de Redação de Football.

Mas será que essa revista vai falar apenas de personagens das decepções do Brasil?

Não. Em Football, não há temas proibidos, não há rancores a serem escondidos, não há ídolos sepultados por uma derrota. E o destaque pode ser de um goleador ou de um dirigente. João Havelange, o brasileiro que dirigiu a Fifa por 24 anos, é matéria de capa. Não foi ele quem derrubou tabus e idealizou uma Copa do Mundo na África? Texto de Ernesto Rodrigues.

Nas páginas da revista, a alegria conquista espaço. Em cada edição, haverá perfis de personagens que marcaram a história da bola dentro e fora do campo, entrevistas exclusivas, minibiografias de técnicos e jogadores, histórias incríveis do futebol, gastronomia, turismo. Claro: sempre tendo como pano de fundo uma sede de Copa do Mundo. A África do Sul está na edição de estréia, com sua paixão pelo futebol e suas incríveis paisagens, por conta do fotógrafo Cleber Bonato. Lá, Bonato conheceu as obras dos estádios africanos e descobriu, no reino de Bafokeng, um inédito projeto de educacional para crianças carentes, ministrado por brasileiros que trabalhavam com futebol em pequenos clubes do Rio de Janeiro.

Football traz ainda uma seção de produtos associados ao esporte, as partidas inesquecíveis, os grandes erros da arbitragem e a opinião de colunistas colaboradores de peso.

Na seção Mantos Sagrados, são mostrados os uniformes mais belos do mundo e a história dos clubes que os criaram.

Qual é o Time dos Sonhos? Numa seção com esse nome, surgem opiniões de gente interessante. A estréia conta com o piloto Rubens Barrichello e os empresários Marco Antônio Bologna e Paulo Kakinoff, que dão seus palpites. No final de 2010, será escolhido o melhor time.

O lançamento de Football está marcado para 5 de abril, às 19 horas, no Estádio do Morumbi. As lojas LaSelva dos aeroportos começarão a vender a primeira edição logo em seguida.

Revista Football

Publicação bimestral da j&p comunicação

Páginas: 132

Impressão: IBEP

Preço: R$ 19,25

Sergio Monte Alegre

THE WINNER PRESS SERVICE

FONE: (11) 3502-2919

Release recebido por Celso Unzelte.

24/03/2010

A melhora da morte


Já estamos completando um quarto de 2010 e muitas expectativas sobre o futebol vem se revelando grandes frustrações. Esta é uma história triste protagonizada por um talismã, um artilheiro, um torcedor e um fenômeno. Quatro personagens que parecem ter algo em comum.

O talismã

Petkovic terminou a temporada passada eleito um dos melhores, senão o melhor, meia atacante do campeonato brasileiro. E como se não bastasse, tornou-se um dos ícones da conquista flamenguista do hexacampeonato brasileiro. Pet que vinha distante dos palcos do futebol de alto nível voltou ao Flamengo por meio de um acordo financeiro que quitaria as dívidas do clube com o jogador.

O resultado final de 2009 foi excelente para os dois. Poucos meses depois o cenário é outro. Após desentendimento com o vice de futebol Marcos Braz, Pet foi afastado e desde o seu retorno ao time, não tem garantido a titularidade, e tampouco o bom futebol. Por outro lado, antes do entrevero com Braz, o meia sérvio já não estava jogando bem.

O artilheiro

Dodô é o artilheiro dos gols bonitos e faz jus ao nome. São Paulo, Santos, Palmeiras, Goiás, Botafogo, Fluminense e agora Vasco. Um baita currículo, sem dúvida. Sua última passagem mais expressiva havia sido o Botafogo, mas foi no Fluminense, em 2008, que atravessou o momento mais difícil de sua carreira. Pego no doping e suspenso por dois anos. Dodô não se abateu e perseverou.

No dia 24 de janeiro deste ano recebeu sua recompensa. Hat-trick (três gols marcados pelo mesmo jogador) de Dodô contra o Botafogo na goleada vascaína por 6 a 0. Dodô voltou a brilhar e seus gols bonitos eram ansiosamente aguardados pela torcida luso-carioca. A memória do futebol, pra sorte de Dodô, havia preservado a imagem do artilheiro dos gols bonitos. Mal sabíamos que as lembranças do Dodô no Santos, sobretudo, retornariam com força máxima. Há duas semanas, na derrota vascaína para o Flamengo, o goleiro rubro-negro Bruno pegou dois pênaltis batidos por Dodô. O artilheiro dos gols bonitos e dos pênaltis perdidos faz jus ao nome.

O torcedor

Ídolo incontestável. Querido pelas torcidas rivais, inclusive. Exemplo de simpatia em meio às inacessíveis celebridades do futebol. Humilde nas falhas que comete e sincero nas críticas que aponta. O herdeiro legítimo de uma linhagem fina de guardametas palestrinos e eterno "São Marcos" de todos brasileiros que assistiram a Copa do Mundo de 2002. Marcos é incontestável.

Viveu uma carreira completa de lesões. Por isso não teve chances de chegar perto de Leão que chegou a marca de 617 partidas disputadas com a camisa do palmeiras. Mas Marcos foi fiel, ainda que seja uma palavra complicada no manto verde. Marcos é incontestável. Leão vestiu o rival alvinegro em 1983. Marcos nunca abandonou o Palmeiras, mesmo diante do rebaixamento. No último ano, parecia que finalmente o Palmeiras sairia de uma fila de 10 anos sem títulos expressivos – o Palmeiras ganhou os extintos Rio-SP e Copa dos Campeõs em 2000, e o Paulistão de 2008 – com atuações eficientes e seguras, sobretudo pelo bom campeonato que o experiente arqueiro desempenhava. Mas o Palmeiras patinou, derrapou, saiu da pista e não conseguiu se reencontrar e acabou nem se classificando para a disputa da Taça Libertadores da América. A qualidade do goleiro Marcos acompanhou a qualidade do time. E acima de tudo, Marcos tem se desequilibrado, enfrentado críticas com muita agressividade e despejando reclamações para todos os lados, inclusive seus companheiros de clube. Agora, no campeonato paulista de 2010, o Palmeiras só se classifica para as semifinais com um milagre improvável. Desta vez o São Marcos não tem como salvar os alviverdes. Desta vez, é só Marcos mesmo, e ele, apesar de ser o torcedor palmeirense em campo não é mais tão incontestável.

O fenômeno

O maior artilheiro das Copas. Campeão do Mundo. Campeão europeu, espanhol, holandês, mineiro, paulista e da Copa do Brasil. Quase 500 gols e uma coleção de lesões, polêmicas e reviravoltas. 2009 seria um ano fenomenal. E foi. Até 1 de julho. Talvez um pouco mais, mas não muito mais. Data a final da Copa do Brasil, o primeiro troféu nacional de Ronaldo e o objetivo do Corinthians de 2009 cumprido: a vaga para a disputa da Taça Libertadores da América de 2010, no ano do centenário do clube.

Ronaldo foi decisivo no primeiro semestre do ano passado. Convincente e eficiente. Na reta final do campeonato paulista, fez até gol de placa. O "Ronaldo Gordo" deixou de ser uma ofensa agressiva e passou a compor o repertório da fala dos torcedores corinthianos com certo ar de deboche com os adversários: "não agüentam o pique do gordinho?", ou "mesmo gordo ele é o fenômeno!". Assim se viu até a disputa do brasileiro do mesmo ano. Junto com o Corinthians, Ronaldo foi burocrático e só não terminou em frustração maior o fim de 2009 porque a expectativa e o discurso de todo o Corinthians e o Ronaldo girava em torno "da conquista da América no ano do centenário". O ano de 2010 chegou e Ronaldo marcou somente 1 gol, no sofrível empate por 1 X 1 com o Mirassol jogado no Pacaembu. Mais que isso, o time não deslanche, é verdade. Mas o decisivo e fenomenal jogador participa pouco do jogo, erra passes, domina com lentidão, e o pior, perde gols, muitos gols.









Todos estes personagens tem algo em comum. A idade. 37, 35, 36 e 33. Muito se falou sobre os veteranos do futebol e quanto ainda eles ainda poderiam render em alto nível. Não há dúvida que a idade não é fator determinante para o bom rendimento do atleta. Rogério Ceni, com 37 anos, mantém boa regularidade e não deve deixar os gramados tão cedo. Zidane protagonizou uma final de copa do mundo com 34 anos. No entanto, estes atletas que vinham de um ostracismo boleiro, e deram a volta por cima, parecem não conseguir manter o brilho que os tirou das trevas do esquecimento ou da fosca desconfiança. Parecem ter dado um último suspiro, o último esforço pela glória. Alguns até conseguiram algum crédito, ainda que temporário. Outros nem isso. É com muito pesar que vejo estes ídolos se despedindo do futebol. Tomara que eu esteja errado.


23/03/2010

AS COPAS DO MUNDO E OS MUNDOS DA COPA – PARTE 4



MUNDO FRUSTRADO

Esquerda derrotada e Direita fracassada (1974, 1978 e 1982)

1974

Sede: Alemanha Ocidental

Participantes: 16

Campeão: Alemanha Ocidental

Vice: Holanda

Posição do Brasil: 4º lugar

Artilheiro (Gols): Grzegorz Lato – Polônia (7)

Média de Público por partida: 45,5 mil

O radicalismo da Guerra Fria esgotou muitos modelos de sociedade. O mundo começou a passar por transformações também presentes no futebol. A Holanda foi um exemplo disso, ao dar sinais de superação da intolerância religiosa, étnica e sexual, culminando em sua seleção um profundo espírito coletivo chamado "Carrossel Holandês". No Brasil, tal qual sua seleção, o regime dava sinais de enfraquecimento nas eleições do mesmo ano, e anunciava a "distensão lenta e gradual". No entanto, pela quarta vez, o anfitrião leva o título em seus domínios.

1978

Sede: Argentina

Participantes: 16

Campeão: Argentina

Vice: Holanda

Posição do Brasil: 3º lugar

Artilheiro (Gols): Kempes – Argentina (7)

Média de Público por partida: 40,6 mil


Mais uma copa decidida na casa do campeão. Mais uma sutil sabotagem à seleção brasileira que viajou quase cinco mil quilômetros em solo argentino, ao contrário do time local que percorreu apenas 600. Mais uma vez uma ditadura militar explorou a euforia da conquista do futebol para forjar um clima de prosperidade no país, desviando o foco das pressões populares contrárias ao regime. Mais uma vez liberdade e opressão se enfrentaram numa copa do mundo, estampadas pelas bandeiras holandesa e argentina. Mais uma vez a democracia perde.

1982

Sede: Espanha

Participantes: 24

Campeão: Itália

Vice: Alemanha Ocidental

Posição do Brasil: 2ª fase

Artilheiro (Gols): Paolo Rossi – Itália (6)

Média de Público por partida: 40,5 mil

Até hoje muitos lamentam a derrota brasileira em 1982. O time era fantástico, todos com liberdade de atacar e responsabilidade de defender, como uma alegoria democrática. A conquista era esperada. A frustração do "Sócrates atleta" na copa foi uma antecipação da decepção do "Sócrates democrata" à espera das Diretas Já que só viriam nos anos 90. A seleção italiana, por sua vez, se igualou ao tricampeão Brasil, tanto nos títulos mundiais quanto à sua estabilidade econômica. Uma década de inflação e criminalidade crescente era inaugurada nestes países.





16/03/2010

AS COPAS DO MUNDO E OS MUNDOS DA COPA – PARTE 3

MUNDO DIVIDIDO

As Copas que aqueceram a Guerra Fria (1962, 1966 e 1970)


1962

Sede (Participantes): Chile (16)

Campeão: Brasil

Vice: Tchecoslováquia

Artilheiro (Gols): Garrincha e Vavá – Brasil (4)*

Média de Público por partida: 24 mil

O melhor futebol do mundo seria decidido novamente na América Latina, onde se acirravam as disputas políticas entre partidos de esquerda e direita. A terceira seleção bicampeã mundial surge no Chile e confirma a América do Sul como vanguarda do futebol. No entanto, neste tempo a América latina também foi vanguarda política. Che Guevara semeava a idéia de cooperação latinoamericana e justiça social através da revolução. Mas acima de tudo, a vitória brasileira foi um prelúdio da constatação de sua força e de seu papel central na geopolítica da Guerra Fria.

*Além dos avantes brasileiros, Leonel Sánchez (Chile), Dražan Jerković (Iugoslávia), Flórián Albert (Hungria) e Valentin Ivanov (URSS) também marcaram 4 vezes.


1966

Sede (Participantes): Inglaterra (16)

Campeão: Inglaterra

Vice: Alemanha Ocidental

Posição do Brasil: 1ª Fase

Artilheiro (Gols): Eusébio – Portugal (9)

Média de Público por partida: 51 mil

Com Pelé machucado e Garrincha suspenso, a seleção brasileira foi figurante da copa no país berço do futebol moderno. A democracia brasileira, com líderes políticos cassados, perseguidos e exilados, tornou-se figura de linguagem no golpe civil-militar de 1964. Para a guerra fria marcou mais uma vitória do bloco capitalista. Portanto, a conquista inglesa testou mais que a força de seu futebol. E em meio, a corrida espacial e armamentista, a Copa do Mundo tornava-se cada vez mais um espaço de disputa das manifestações político-ideológicas.


1970

Sede (Participantes): México (16)

Campeão: Brasil

Vice: Itália

Artilheiro (Gols): Gerd Müller – Alemanha (10)

Média de Público por partida: 50 mil

Os norte-americanos que levaram o homem a lua começavam a ser surpreendidos no Vietnã. Os movimentos estudantis e a contracultura, que pressionavam autoridades e inspiravam grupos marginalizados, foram facilmente suprimidos na primeira copa do México. Longe dos centros de tensão política e pressão popular, o sombrero encobriu o calor de uma guerra nada fria. Para complementar, houve a vitória do gigante da América latina, o arauto do liberalismo. A seleção brasileira virou artista para uma platéia rica que explorava seu país e para uma platéia pobre que a idolatrava com a mão no lado esquerdo do peito.

13/03/2010

(Mais) Uns dias fora

Por hora, mais publicações do Blog ficam para a próxima terça-feira, continuando a série As Copas do Mundo e os Mundos das Copas.


Fico fora escrevendo algo que em breve, contarei a todos.


No entanto, mais fora que eu estarei nos próximos dias estará o Guarani FC, ao menos até o fim da rodada. Com a derrota para o Votoraty que além de ter se distanciado do grupo de classificação, só está a 3 pontos da zona de rebaixamento do paulistão A2 (Confira Tabela).


Apesar da classificação para a próxima fase da Copa do Brasil (com todo respeito, passando pelo "poderoso" Araguaína de Tocantins), a torcida do Bugre passou a protestar com a situação do clube há algum tempo. Não vem surtindo efeito, senão aumentando a angústia de todos campineiros que vestem verde e branco.


Triste para o futebol paulista que no ano que vem não poderá ser vitrine do centenário do Guarani em meio a elite do seu futebol.


Triste para o futebol brasileiro que receberá o único time do interior campeão brasileiro frágil como um senhor de 100 anos.


12/03/2010

Colo-Colo, o time do presidente


Ontem, dia 11, tomou posse sob mais uma réplica de tremores novo presidente chileno Sebástian Piñera. Durante o "cambio de mando", ficou clara a mensagem de otimismo e coragem transmitida por Piñera ao prometer soluções rápidas para a reconstrução do país.

Asssunto sério que precisa ser acompanhado de perto, sem dúvida.
Por outro lado, quem pode estar otimista é a torcida do Club Social y Deportivo Colo-Colo.
O novo presidente chileno é mais que torcedor do Colo-Colo. Piñera detém 14% das ações da corporação Blanco y Negro S. A. que é gestora do clube desde 2005.

Além de um patrimônio extraordinário, cuja fortuna fora avaliada em mais de 2 bilhões de dólares pela revista Forbes, o empresário agora é a figura política mais importante do Chile.

Sabe-se também que Gabriel Ruiz-Tagle, até então presidente do Colo-Colo (Blanco y Negro S.A.), foi nomeado subsecretário de esportes de Piñera.

Desde a implantação do novo formato administrativo do clube, o Colo-Colo voltou a protagonizar as decisões dos torneios clausura e apertura (campeonato nacional), após alguns anos em má fase. No entanto, não chega às semifinais do torneio continental desde 1997. (Atualmente, o Colo-Colo está em terceiro lugar no grupo (7) do Cruzeiro).

Não se pode prever ou determinar o impacto deste novo governo para o Colo-Colo.
Mas, certamente, é esperado que um empresário do futebol - y muchas cositas más - tenha condições de trazer desenvolvimento ao esporte no país.

Nota: Informações retiradas da Folha de S.Paulo e Triunfo.cl.

11/03/2010

Geopolítica Palestrina?

Hoje no portal Terra foi publicada uma notícia sobre uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo favorável ao Palmeiras referente a uma ação praticada no caso da transferência do lateral e volante Rogério para o Corinthians em 2001.

De acordo com Antonio Carlos Carone, advogado do Palmeiras, existe uma dívida no valor de R$ 16 milhões. Fala-se (pura ventilação) até no nome de Dentinho, como garantia.


Longe de ser uma decisão definitiva, a vitória da ação movida contra o arquirrival revela uma ruptura das relações diplomáticas entre as diretorias alvinegras e alviverdes.

Evidentemente, trata-se de um caso que terá reviravoltas e necessita de uma profunda apuração.

No entanto, não me parece coincidência um embate desta grandeza na atual conjuntura palestrina.

Eu me recordo de uma idéia abordada pelo grande cientista político e sociólogo Emir Sader que dizia que a maneira mais rápida e eficiente de desviar o foco das tensões e conflitos internos de um país era mobilizar os olhos de seu povo em direção ao inimigo externo, e assim enfrentá-lo com apoio de todos.

Sader se referia, por exemplo, a crise da Argentina durante o regime militar que teria se utilizado a Guerra das Malvinas (1982) como uma manobra política.

Será que a gestão Belluzo pretende utilizar de geopolítica no futebol?

10/03/2010

O Egoísmo do Futebol

Desde a declaração do vice de futebol do flamengo, Marcio Braz, sobre a relação descontrolada entre Adriano e álcool, vemos um espetáculo de declarações que pouco se deparam com a gravidade do problema.


Hoje, no site Lance!, o presidente da CBF Ricardo Teixeira teceu suas opiniões sobre o caso. Duas frases ilustram sua visão sobre o assunto: "Acho que beber a cervejinha não tem problema nenhum (...) o que não pode é beber um engradado". De forma semelhante, apesar de negar veementemente de que se trata de um caso de alcoolismo, Braz havia dito que "ele (Adriano) tem problema com a bebida. Quando começa, não consegue parar".


Em meio a esse falatório, Roberto Carlos, lateral esquerdo do Corinthinas, defendeu o amigo, e resumiu a situação como um "problema extracampo" que certamente não vai atrapalhá-lo na seleção. A notícia ecoou no mundo todo.


Poderia escalar dois times e um banco de reservas com outros personagens que se pronunciaram a respeito. Mas não vale a publicidade destes.


Procurei um referencial bem didático para ilustrar a situação.


De acordo com o AA (Alcoólicos Anônimos), há uma lista de indícios que podem revelar um caso de alcoolismo.


Eis algumas que separei:


Já tentou parar de beber por uma semana (ou mais), sem conseguir atingir seu objetivo?


Seu problema de bebida vem se tornando cada vez mais sério nos últimos doze meses?


A bebida já criou problemas no seu lar?


Nas reuniões sociais onde as bebidas são limitadas, você tenta conseguir doses extras?


Apesar de prova em contrário, você continua afirmando que bebe quando quer e pára quando quer?


Faltou ao serviço, durante os últimos doze meses, por causa da bebida?


Já experimentou alguma vez 'apagamento' durante uma bebedeira?


Já pensou alguma vez que poderia aproveitar muito mais a vida, se não bebesse?


Quais desses são afirmativos no caso de Adriano?


O que vejo são flamenguistas angustiados em ver o seu maior ídolo pesando 106 quilos e longe dos gramados, e a imprensa carioca reproduzindo o "mistério da lista de Dunga" que tem o nome de Adriano como um dos maiores enigmas.

No entanto, ingênuos são cada vez mais raros. Outras questões preocupam.

Como a CBF que anda de mãos dadas com a Ambev, sempre aproximando os ídolos da seleção a marca cerveja mais forte do Brasil vai condenar o uso de álcool de Adriano?

Como o maior e mais poderoso veículo de imprensa brasileiro vai se opor a uma situação que ele permite que seja induzida e alimentada todas as noites em sua programação com as festas e bebedeiras protagonizadas pelos participantes do reality show mais popular do país?

Há um conflito de interesses. Por isso, a vista grossa.

Afinal de contas, do que se trata? O que importa? A libertadores para o Flamengo, a Copa de 2010 ou a vida de Adriano Leite Ribeiro?



09/03/2010

AS COPAS DO MUNDO E OS MUNDOS DAS COPAS - PARTE 2


MUNDO OTIMISTA: Os recomeços e o surgimento do Rei (1950, 1954 e 1958)

1950

Sede (Participantes): Brasil (13)

Campeão: Uruguai

Vice: Brasil

Artilheiro (Gols): Ademar – Brasil (9)

Média de Público por partida: 47 mil

Com o recesso forçado pela segunda grande guerra, a ideia de voltar a promover a competição ganhou força apenas em 1950, e um país que saíra economicamente beneficiado da guerra e com condições de construir um grande estádio para o evento, foi o Brasil. A escolha da nação verde e amarela ainda teve que superar a tensão das décadas anteriores, entre a Europa e América, no que diz respeito ao preconceito racial e cultural. No entanto, o que parecia um recomeço entusiasmado do futebol e do mundo, para o Brasil revelou mais uma decepção. Diante de 200 mil pessoas no Maracanã, a seleção uruguaia sagrou-se campeã pela segunda vez.


1954

Sede (Participantes): Suíça (16)

Campeão: Alemanha Ocidental

Vice: Hungria

Posição do Brasil: Quartas-de-final

Artilheiro (Gols): Kocsis – Hungria (11)

Média de Público por partida: 34 mil

A Inglaterra deixara definitivamente o boicote à competição. A frágil performance do Brasil combinava com o inseguro mandato democrático-populista de Getúlio Vargas, que se matou meses depois. A inovadora seleção húngara de Ferenc Puskas, que levou ouro olímpico em 1952, trouxe o melhor momento do comunismo nas Copas num momento em que repercutia amplamente os crimes de Stálin. Mas a história não terminou assim. "Milagre de Berna". A seleção da Alemanha ocidental, derrotada por 8x3 na primeira fase da competição, venceu os húngaros, invictos a 32 jogos, respondendo ao mundo como um país que sairia das trevas da guerra e do nazismo.


1958

Sede (Participantes): Suécia (16)

Campeão: Brasil

Vice: Suécia

Artilheiro (Gols): Just Fontaine – França (13)

Média de Público por partida: 26 mil

O surgimento daquele que seria o atleta do século pode ser entendida como uma alegoria da ascensão de um conjunto de povos e países que passou a ser denominado terceiro mundo. Desde a Conferência de Bandung (1953) que apresentou esta categoria, a promissora divisão geopolítica mundial adquiriu aspectos mais complexos.

Em virtude da riqueza natural brasileira e de seu potencial econômico, a conquista da copa alertou o bloco capitalista que o gigante da América do sul seria um aliado indispensável na Guerra Fria.

02/03/2010

AS COPAS DO MUNDO E OS MUNDOS DA COPA


Com a primeira Copa do Mundo organizada pela FIFA, inicia-se uma nova maneira de se orientar através do tempo. Desde 1930, com exceção do decênio de guerra, genocídio e destruição de 1939-1949 que interrompeu estes ciclos, a cada quatro anos, progressivamente, mais e mais pessoas aguardam pelo evento esportivo que, hoje, tornou-se o mais lucrativo e assistido do mundo.

Parece exagero? Quem sabe. Mas é inegável que o evento que proporciona cerca de 3 bilhões de telespectadores – metade da população do planeta – seja capaz de organizar a rotina destas pessoas, ou mesmo mobilizar seus sentimentos e planos.


PARTE 1

MUNDO MELANCÓLICO

A pioneira Copa e as Copas do Fascismo (1930, 1934 e 1938)



1930

Sede: Uruguai

Campeão: Uruguai

Vice: Argentina

Posição do Brasil: Primeira Fase

Artilheiro (Gols): Guillermo Stábile – Argentina (8)

Média de Público por partida: 24 mil

No ano em que completou o centenário de independência, a seleção anfitriã sagrou-se campeã. A fraca campanha do Brasil refletiu a ausência de apoio do poder público ao futebol profissional e a discriminação racial que não permitiu a ida dos melhores atletas à Copa.

Já a vitória uruguaia forjou um sentimento nacionalista que se sobrepôs às acirradas disputas políticas entre os partidos Blancos e Colorados. Por outro lado, o mundo de mais de 30 milhões de desempregados vítimas do Crack da bolsa de Nova Iorque cada vez mais consumia a paixão pelo futebol como fuga de sua desgraça.


1934

Sede (Participantes): Itália (16)

Campeão : Itália

Vice: Tchecoslováquia

Posição do Brasil: Primeira Fase

Artilheiro (Gols): Oldřich Nejedlý – Tchecoslováquia (5)

Média de Público por partida: 21 mil

O anfitrião novamente leva a taça. Mas agora falamos do exército de chuteiras de Benito Mussolini. Vencer era preciso para aumentar a popularidade de seu governo, provando a superioridade da sua raça e disfarçando a melancolia da recessão econômica.

O novo fracasso tupiniquim demonstrou sua fragmentação política, inclusive no futebol. As disputas políticas se acirravam pelo apoio paulista a profissionalização do esporte. A parcela do futebol carioca mais influente era contrária aos paulistas, e a falta de acordo levou à Copa um time formado só por jogadores que atuavam no Rio de Janeiro, desfalcando metade da seleção principal.


1938

Sede (Participantes): França (16)

Campeão: Itália

Vice: Hungria

Posição do Brasil: Terceiro lugar

Artilheiro (Gols): Leônidas da Silva – Brasil (7)

Média de Público por partida: 20 mil

A seleção brasileira chegou à Copa com maior apoio e coesão política. Alzira Vargas, filha do presidente, foi madrinha e Luiz Aranha, irmão do Ministro da Fazenda, chefe da delegação. Mais que isso, o Brasil tinha o diamante negro, Leônidas da Silva.

No entanto, a pressão do regime fascista contaminou a Copa do Mundo. A torcida italiana massacrou os atletas de "raça inferior"; o ambiente bélico era cultivado; e a arbitragem inventou o pênalti que decidiu a vitória italiana contra o Brasil. O orgulho racista italiano superou provisoriamente a melancolia de sua sociedade em crise.

28/02/2010

A NOVA ORDEM DO FUTEBOL

A burocracia sai dos bastidores e entra em campo

Na reta final do campeonato brasileiro sentíamos uma espécie de déjà vu. Parecia impossível há alguns meses, mas havia se tornado realidade, ainda que desacreditada. Faltando cinco rodadas para o fim da competição, o São Paulo Futebol Clube tomou a liderança do líder Palmeiras, após dezenove rodadas em seu domínio. Dependendo somente de seus resultados, o tricolor poderia se tornar o único clube a conquistar quatro títulos nacionais consecutivos.

Apesar do fracasso nas rodadas decisivas, ficou claro, com exceção do Flamengo, a relação entre os resultados dos clubes mais bem colocados e a eficiência do trabalho estruturado e profissional, tal qual o Cruzeiro, Internacional e sobretudo, o São Paulo Futebol Clube.

Criado pelas elites paulistanas na década de 1930, o clube tornou-se hoje mais do que nunca o modelo de administração competente do futebol. Com o maior estádio particular do Brasil, a segunda maior torcida do Estado de São Paulo e um pioneiro investimento em marketing, o SPFC tornou-se um paradigma do futebol moderno.

O tricolor paulista revestiu-se de uma imagem austera e íntegra do futebol. Ele tenta se blindar das polêmicas de arbitragem e expõe a imagem de um clube financeiramente forte, cuja realidade configura-se um caso à parte no corrupto, incompetente e desorganizado futebol brasileiro.

O nome do SPFC passou a ser escrito no noticiário esportivo ao lado de "planejamento", "organização", "lucros" e "vitórias". Comumente é dito que as conseqüências mais concretas desta condição do clube do Morumbi são os diversos títulos expressivos e o crescimento de sua torcida.

Enfim, esse é o modelo de futebol que admiramos.

Admiramos?

O SPFC tornou-se um modelo de administração do futebol. Entretanto não se traduz como um modelo de futebol nas quatro linhas. Nem mesmo a eficiência garante a unanimidade, e o Brasil assistiu a hegemonia de um time de futebol pragmático, não performático.

Para a história, não há relação direta entre quantidade de títulos e torcedores. O torcedor se empolga com a competitividade, e sobretudo se encanta com a arte dos seus melhores jogadores. O SPFC tem sido um clube que se destaca pelo elenco forte e equilibrado, com responsabilidades divididas. O brilho individual é quase ausente, com exceção da figura do goleiro cobrador de faltas que é tão decisivo quanto outros goleiros de grandes clubes devem ser. Portanto, o torcedor do SPFC tem um perfil diferente, pois está relacionado afetivamente ao clube por intermédio de outros códigos e símbolos.

A meu ver, este modelo de futebol do SPFC, bem como sua nova torcida, somente existe enquanto contingência de uma dimensão maior. O modelo de futebol dos últimos 20 anos no Brasil corresponde ao processo de transformação administrativa que passou o tricolor do Morumbi. E esta concepção de administração do futebol é resultado do seu próprio tempo.

Isso porque, o Estado brasileiro se apropriou de conceitos de administração privada para a administração pública. Termos como "gestão" e "gerência" foram difundidos na máquina pública, e se firmaram com a garantia de resultados positivos ao país. Assim se fez. Assim, o Estado "neoliberal" sufocou a inflação e fortaleceu as classes médias, e as privatizações passaram a ser compreendidas como a forma de tornar a máquina pública mais eficiente e menos onerosa. A nova ordem político-econômica do fim do século XX tornou-se paradigma da elite política e da imprensa brasileira

Ao mesmo tempo, o SPFC assimilou uma tendência empresarial do futebol. Os mesmos adjetivos são encontrados na ao tratar tanto do modelo ideal de administração pública e quanto do da administração do futebol.


O SPFC tornou-se o signo deste modelo ideal de futebol, e não coincidentemente, prosperou por estes termos. A torcida do SPFC se popularizou e, apesar de relacionarmos esta realidade à conquista de títulos mais recentes, este processo é ainda mais amplo.


Torcer pelo SPFC passou a ser conveniente.


Torcer pelo SPFC é adquirir um poderoso capital simbólico que integra o torcedor a um grupo absolutamente vitorioso.


Ao falar dos imigrantes e emigrantes que chegaram a cidade de São Paulo no começo do século passado, escreveu um dos grandes historiadores do século XX, Nicolau Sevcenko, "na busca de novos traços de identidade e solidariedade coletiva, de novas bases emocionais de coesão que substituíssem as comunidades e os laços de parentesco que cada um deixou ao emigrar, essas pessoas se vêem atraídas, dragadas para a paixão futebolística que irmana estranhos, os faz comungar idéias, objetivos e sonhos, consolida gigantescas famílias vestindo as mesmas cores".


O futebol tem este poder de agregar indivíduos que busquem uma identidade própria. Com o SPFC não tem sido diferente, a não ser pela sua especificidade deste momento. Torcer para o SPFC é garantir a manutenção de um status quo das elites, ao mesmo tempo em que também é um meio de ascensão social.

Compreender o futebol é uma tarefa pouco apoiada, já que mais sentimos do que pensamos o futebol. Não tenho a pretensão de concluir que há uma atmosfera mental na sociedade brasileira que permita consolidar tais modelos.

Hoje jogam na Vila Belmiro Santos X Corinthians. Ambos progressivamente integram esta nova lógica de administração de futebol. Esta nova ordem do futebol. No entanto, para estes, a burocracia não invadiu as quatro linhas, e este clássico certamente consolidará, de um lado, a jovialidade e espontaneidade da nova geração de craques do Santos e, de outro, a raça e paixão dos soldados de Mano Menezes inspirados por um fenômeno.

Por outro lado, é inegável que a forma de se fazer futebol mudou, e o envolvimento das pessoas com seus clubes tem se atrelado cada vez mais aos discursos ideológicos perpetuados pelos veículos de comunicação, em detrimento dos ritos mais tradicionais entre as famílias.

Também não pretendo terminar meu texto como um nostálgico romântico do futebol que se recusa aceitar a nova realidade do jogo. Procuro me esforçar ao máximo a entender o futebol que vivemos, tanto em sua excelência saopaulina quanto em sua incompetência dos diversos grandes rebaixados.

Imagino que se a nossa política está tão afinada com o nosso futebol, se quisermos subverter e contestar a política de nosso país talvez devamos começar subvertendo a nova ordem do futebol.

26/02/2010

Passos largos no silêncio inescrupuloso


O futebol e a sua imprensa, a imprensa e o seu futebol

Todos sabemos que o Futebol das últimas décadas tornou-se um negócio daqueles.

Até mesmo as 10 frágeis equipes da primeira divisão suíça conseguem juntas faturar quase 130 milhões de euros.

Essa é uma realidade da qual mesmo os mais apaixonados pelo esporte não podem desprezar.
No entanto, este texto não traz saudosismos e romantismos da bola.

Aqui tenho uma motivação, uma indagação e uma expectativa.

A motivação. Descobri tardiamente que o Diário de S.Paulo foi comprado. Veículo de com quase 400 funcionários e o quinto jornal mais vendido na capital. Em franca expansão, o grupo Traffic de J. Hawilla é o responsável pela aquisição. Agora, o Diário deve se integrar à rede Bom Dia que permeia o grande ABCD e algumas cidades do interior como Bauru, Jundiaí e Sorocaba.

A indagação. “A ligação com o merchandising fere o que um jornalista tem de mais precioso, sua independência e credibilidade”. Este é um fragmento do novo livro de Celso Unzelte,"Jornalismo Esportivo. Relatos de uma paixão”, citado por Juca Kfouri em seu Blog (http://blogdojuca.blog.uol.com.br/). Apesar desta afirmativa se referir diretamente aos programas de TV e rádio que exploram publicidade, não vejo como não relacionar esta crítica ao fato mencionado acima.

Como um canal de imprensa noticia um indivíduo, empresa ou instituição que tem negócios com o dono do próprio veículo? Como o novo Diário de São Paulo vai acusar a agressividade do futebol de Diego Souza, atleta cujos direitos econômicos estão nas mãos do proprietário do jornal? Quem deverá ser escolhido o melhor do campeonato? Quem deve ser convocado? Como não pensar que os interesses na promoção e valorização de atletas estarão atrelados às notícias? Este é o dilema infindável do jornalismo.

A expectativa. A complexa relação entre o dono do jornal e a notícia que ele permite publicar obviamente extrapola este nicho da imprensa abordado. Seja ele lúdico ou pernicioso, o significado dado à notícia é contaminado pelos interesses e a visão de mundo de quem escreve e de quem é responsável pelo órgão de imprensa. O texto é inerente ao seu criador. Falar da ilusão da objetividade e neutralidade tornou-se conversa vulgar pra quem é um maduro jornalista. O conceito a ser usado agora é ética.

No entanto, ao falar da Traffic lembramos de uma empresa que está envolvida com as filiadas da maior rede televisiva do Brasil; com os direitos de transmissão da maior competição internacional de clubes da América; e com atletas e o clube finalista desta última competição transmitida pela mesma grande rede televisiva.

Não sei quais os limites desta ética, mas espero sinceramente que não chegue perto do que está acontecendo com o jornalismo esportivo brasileiro.

25/02/2010

Porque Avesso


Sempre me perguntei quanto tempo mais eu levaria pra criar minha própria página virtual. Não tenho a pretensão de dizer que cansei da mesmice e que vou, enfim, produzir algo de qualidade.

Não é o caso.

Há de fato muita reprodução. Por outro lado, o conteúdo não é menos importante. Apesar do desgaste da repetição, o óbvio toma forma e se torna fundamental para encontrarmos o diferente.

Parece uma observação simples, e certamente é.

No entanto, entender que a só podemos indagar o invisível a partir do que vemos com clareza traz uma noção ética importante diante a diversidade.

Diversos especialistas, sejam eles blogueiros, jornalistas ou comentaristas, são capazes de sintetizar com muita competência a superfície do jogo, mas poucos buscam olhá-la do avesso.

Quando ali ver paixão, revirá-la. Com frieza, na medida do possível.

Quando ali ver negócios, extirpá-lo. Discutindo e contendo nostalgias.

Quando ali ver arte. Sorrir. Mas sempre vigiando, com a migalha dos olhos, como dizem na minha terra.

Lembrar com o futebol.

Questionar os discursos.

Pensar o futebol.

De outro jeito.

Do avesso.