O espetáculo que nasce em dois minutos ou dois gols.

-Por todos nós-

11/04/2011

Ganso

Dizem que a definição da loucura é você realizar a mesma ação diversas vezes e esperar resultados diferentes. Ora, tratemos deste aforisma com um caso recente espalhado pela imprensa esportiva brasileira.
Paulo Henrique Ganso vem sendo encurralado com indagações sobre seu futuro, envolvendo renovação de contrato ou uma transferência para algum grande clube europeu.
Há quem diga que até uma ponte pelo maior rival, o alvinegro de parque São Jorge, poderia acontecer.
O caso é que o craque esperança canarinho passou de jogador diferenciado, maduro a um jovem de 20 anos, cheio de dúvidas e influenciado por diversos interesses em conflito.
Os comentários da mídia esportiva sobre a final do campeonato paulista de 2010 elevaram PH Ganso ao status que Neymar não alcançara. Aos olhos dos cronistas, o craque incontestável fora e dentro de campo desde então se apequenou diante dos dilemas comuns dos grandes jogadores.
Pois bem, o Ganso de 2010, homem, virou o Ganso menino de 2011. É assim que muitos têm analisado e responsabilizado suas atitudes: um peso e duas medidas.
O entusiasmo ao ver o Ganso de 2010 não pode complicar demais as coisas. O Ganso de 20 anos ainda era um garoto, que há pouco mais de um ano havia conquistado seu lugar num clube grande, títulos e visibilidade. Um menino diferente, mas um menino. E agora, a superanálise provoca uma cobrança acima da medida.
Ou será que a loucura tomou conta dos jornais?


O avesso

O avesso volta a vida sem ao menos ter morrido ou sequer saído da encubadora. Claro, nasceu prematuro em sua forma e conteúdo. Algo que ainda não pode ser.
O blog nasce sem perceber o seu próprio sentido e sem entender sua própria missão.
Missão? Não.
O blog é um vaso sanitário semi-público onde um indivíduo de rotina e hábitos duvidosos evacua sua desinteria mental para que outros que sintam essa fisgada peristáltica do córtex cinzento possam deixar sua pintura cerebral na louça virtual.
Bem vindos ao Avesso do Futebol que nada mais é o escoamento do mal estar de ideias fora do lugar.

25/05/2010

Os heróis de chuteiras

Os mitos são histórias construídas a partir de tradições, costumes e saberes que uma cultura produz geralmente para explicar a sua origem ou seu destino. Um exemplo muito comum das narrativas míticas é o herói. Seja para a antiguidade greco-romana ou para os estúdios de hollywood, este indivíduo, ainda que reuna capacidades extraordinárias que superam os desafios e problemas dos homens, não é imbatível.

A falha, o erro, ou a fraqueza apesar de parecer destruir a força do herói, na verdade constrói o mais profundo ponto de contato entre este ser detentor de qualidades suprahumanas e o homem.
O herói dos livros, quadrinhos ou cinema é semelhante ao 'ídolo real' - com certas ressalvas das proezas sobrenaturais - que muitas vezes ocupa os mesmo lugares que os próprios heróis.

A humanidade tanto do herói quanto do ídolo é o fator que cativa seus admiradores, seus fãs.

O mundo contemporâneo da pós (ou super) modernidade produz heróis/ídolos dos mais diversos tipos. Astros de cinema, cantores e até mesmo animais e pasmem, até políticos!

Mas certamente são poucos heróis/ídolos que se formam a partir de tanta devoção como os jogadores de futebol. Os grandes ídolos do futebol adquirem uma identidade que irmana seus fãs que são capazes de xingá-lo e aplaudí-lo na mesma partida. O jogador que faz o gol do título num dia e no outro perde o penalti que decide a eliminação de seu time. Nada mais que o Herói.


Entre o humano e o divino



Recentemente, o maior herói da história da Argentina, Maradona, que tem até uma igreja à prestar adoração a sua imagem, mergulhou numa aventura cujo capítulo final - que em breve será visto no mundo todo - irá certamente transformá-lo. Muito criticado pelo desempenho da seleção argentina, o atual treinador que já foi ídolo do seu país vestindo a camisa da equipe que agora dirige não será mais o mesmo. O herói tem dois caminhos pela frente. Um deles, a trilha da glória e honra, acima de tudo, poderá consagrá-lo definitivamente como uma divindade na terra platina para além daqueles mais fanáticos.
O outro caminho, de fracasso e humilhação, talvez esvazie os bancos da igreja maradonista e certamente dará chance para um substituto do trono de ocupa há mais de 20 anos. Mesmo um terceiro caminho com bravura e derrota não deixaria a imagem do ídolo intacta. O futuro é imprevisível para Maradona, mas é certo que os ventos tomarão uma outra direção.


O calcanhar de Zico

Ainda que discutível, é difícil não posicionar Zico e Maradona no panteão de ídolos do futebol. O 'Galinho de Quintino' não conquistou o mundo com a seleção a despeito de Dieguito. Na Copa do Mundo em que o argentino se consagrou, Zico foi castigado pelo penâlti perdido durante a partida semifinal que eliminou a equipe brasileira.

No entanto, os anos 1980 fez do Zico um herói rubro negro. Hexacampeão carioca, tricampeão brasileiro (sem contar a Copa União 1987) e campeão da américa e mundial em 1981. Zico foi o homem que transformou o futebol japonês e chegou a Turquia, já como técnico, para assumir o trono de Rei. Rei Artur.
Apesar das passagens pouco marcantes no Uzbequistão (2008), Rússia (2009) e Grécia (2009-2010), a sua imagem do grande ídolo flamenguista, e em certa medida, brasileiro está preservada.

A qualidade do Zico técnico é respeitada, ainda que não tão certa. Porém, há anos que a imprensa ventila um possível retorno daquele que foi o maior jogador da história do flamengo, o grande artilheiro do maracanã, o homem que em campo ora era arco (meia armador), ora era flecha (finalizador frio). A torcida se empolga com essa possibilidade.

Seja como técnico ou diretor de futebol, as portas da gávea parecem bem abertas ao Galinho.
Mas parece que este retorno não deve acontecer tão cedo. Se acontecer.
La Gazzetta dello Sport publicou hoje o interesse do Catania em levar o brasileiro ao comando técnico do time italiano. Para quem passou pelo terceiro e quarto escalão do futebol mundial, disputar o Calcio mesmo num time de menor expressão torna-se mais uma grande oportunidade ao treinador.

Ainda que estejamos no âmbito da especulação, o futuro de Zico mesmo que não seja a Itália tem poquíssimas chances de ser rubro-negro.


Em março deste ano foi firmada uma parceira entre o Flamengo e o CFZ (Clube Futebol Zico), em que atletas seriam negociados entre os clubes com vantagens proporcionais a cada uma das partes e transações.

No momento, a única parte de Zico dentro do gávea é este acordo.
Até na coordenação de torneios de futebol infantil na Disney, o ex-camisa da 10 da seleção participa, mas o Flamengo continua uma realidade vivida somente no passado e na paixão de torcedor.
Zico é um ídolo inquestionável entre os rubronegros. Será que o Galinho de Quintino está disposto a expor suas fraquezas, tal como está fazendo Dieguito?

Zico está preparado para estender seu passado de herói a um futuro tão incerto?

26/04/2010

O que é esse Futebol?

O futebol - fenômeno total, que entrelaça política, cultura, sociedade, religião, paixão, prazer e tudo aquilo que é mais humano - também é um negócio daqueles.

Sobre isso, mesmo entre os mais saudosistas, não há quem negue a sua faceta de mercadoria.

No entanto, o que se tem discutido são as consequências do futebol business para os diversos atores envolvidos, e ao meu ver, o grande desafio estaria em evitar as perversões sociais e éticas decorrentes do modelo de futebol atual.

A inspiração desse comentário provém de uma importante entrevista realizada por Débora Bergamasco e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo.
O entrevistado: a revelação mais badalada do futebol brasileiro dos últimos anos, Neymar, 18.

Não me interessa aqui julgar a opulência e vaidade do jovem por seus brincos de ouro; imóveis e carros de luxo e cabelos alisados - afinal de contas, nisso ele não se difere de muitos outros jogadores badalados.

Não pretendo fazer uma síntese do ótimo trabalho de Débora, mas entendo como necessário mencionar duas passagens que me chamaram a atenção.

Farei isso de maneira bem cartesiana.

1. Já foi vítima de racismo?
(NEYMAR) Nunca. Nem dentro e nem fora de campo. Até porque eu não sou preto, né?


2. Já tirou seu título de eleitor?
(NEYMAR)Não tirei. Nem queria, mas vou ter que tirar.


O que há de errado no que o garoto disse? Afinal de contas, é só um garoto.
Um garoto que pode comprar um carro, uma casa. Pode viajar, fazer filhos e fazer um gol de placa na final de um campeonato. Nada disso me interessa.

Um garoto que NEGA a própria cor de pele. Ele é um testemunho claro pra quem não vê e pra quem não quer ver o preconceito racial no Brasil.

A ilusão da informalidade da malandragem brasileira desfarça o teor de discriminação contido no "Eu não sou preto, né?".
A miragem da democracia racial omite a negação de sua cor ao criar categorias como "pardo" e "mulato". Neymar talvez não saiba o que é, mas sabe que negro não é.

Se existe alguma sutileza que dê outro sentido a fala de Neymar e que poderia até absolvê-lo, certamente só poderia ser percebida no instante que ele responde para a jornalista. Mas aparentemente, não é o caso.

Neymar é só um garoto. Um garoto que "TEM QUE TIRAR" título de eleitor. Um garoto que não sabe quem são os candidatos à presidência. Um ídolo de milhares de jovens iguais a ele. E também é um jovem comum.

O que há de grave nisso tudo?

Seria o Neymar uma exceção, ou todos esses jovens serão adultos mais conservadores que seus próprios pais? Foi até uma pergunta ainda não respondida que fiz a jornalista responsável pela entrevista. Grandes ambições materiais são marcas quase invariáveis nos jovens futebolistas brasileiros. Geralmente, vindos de uma trajetória de vida sofrida e muita superação, os novos talentos se arremessam no mar de riqueza tentando recompensar seu passado humilde.

Mas Neymar há muitos anos tem sido tratado como jóia rara no Santos, e já recebia salário de jogador profissional de primeira divisão do futebol brasileiro. Pressupõe-se que Neymar teria tido condições materiais de ter acesso aos diversos bens culturais inerentes a uma educação de um cidadão.

Não me interessa elaborar hipóteses sobre a formação do Neymar. Mas me interessa entender que lugar o futebol ocupa no meio disso tudo.

Neymar e tantos outros jovens ignoram o que há de mais importante na juventude. A capacidade de transformar. Ainda que, como já escrevi anteriormente, dentro das quatro linhas ele tem sido subversivo.
(Para saber mais, leia o artigo: A Nova Ordem do Futebol).

Aqui vale repetir uma ideia. O futebol é um espelho da sociedade.

O futebol não produz jovens que ignoram sua cidadania. E tampouco os transforma.

O Brasil, diz o ácido ditado popular, o país onde puta goza, cafetão tem ciúmes, traficante é viciado e pobre é de direita, ainda precisa construir uma instituição chamada democracia que depende de uma tradição chamada cidadania.

E o futebol? E Neymar?

Não podemos entender o futebol como uma janela transparente que reflita de forma isenta as tensões sociais.

Também não podemos ignorar o exemplo do Neymar como um reflexo dos problemas de ensino no Brasil.

Esse futebol, no mínimo, não interrompe a continuidade da reprodução de jovens tão alheios a realidade do seu país.

O que é esse futebol?


Confira a entrevista feita por Débora Bergamasco no Estadão.

08/04/2010

Resgate da memória

O pequeno e discreto Portal da Móoca, diferente dos demais sítios dos bairros paulistanos, não é um outdoor de banners dos serviços prestados da região. A simplicidade do layout esconde a riqueza do conteúdo ali disponibilizado.
Além de resgatar os registros dos ancestrais do bairro através dos relatos e fotos dos moradores mais antigos, o Portal divulga as atrações culinárias e as principais notícias relativas aos eventos da Móoca.

Para o AvessodoFutebol, o grande destaque do Portal é o acervo da memória do futebol da várzea da Móoca. Além de um pequeno histórico, o sítio exibe fotografias raras dos escretes cedidas pelos próprios moradores. Times como Cacau FC, Estrela da Mooca, Mem de Sá e até um Peñarol da Móoca. Ao todo são 37 equipes lembradas , além, claro, do maior time do bairro, o Juventus.

A iniciativa é um importante esforço no resgate da memória do bairro, e assim um recorte que contribui positivamente na elaboração do mosaico histórico da capital paulista, sem deixar de ser mais uma fonte interessante da memória do futebol aos apaixonados pelo esporte bretão.

Acesse: www.portaldamooca.com.br

06/04/2010

AS COPAS DO MUNDO E OS MUNDOS DAS COPAS – PARTE 6

NEOMUNDO

Futebol força e a Reconstrução da imagem das nações

1998

Sede: França

Participantes: 32

Campeão: França

Vice: Brasil

Artilheiro (Gols): Suker (6) - Croácia

Média de Público por partida: 43,5 mil

A copa da França já apontava mudanças importantes na Europa ocidental. Com a queda de crescimento vegetativo da população, houve um aumento das imigrações, sobretudo de africanos. Esse dado era perceptível na equipe francesa que contava com muitos negros. Nesse sentido, embora pouco aplaudida pela extrema direita, a conquista francesa proporcionou uma progresso na tolerância étnica e cultural em território francês. Para o Brasil, grande favorito, restou aguardar a continuidade do trabalho de sua seleção e do seu presidente então reeleito no mesmo ano.


2002

Sede: Coréia do Sul e Japão

Participantes: 32

Campeão (Vice): Brasil - (Alemanha)

Artilheiro (Gols): Ronaldo (8) - Brasil

Média de Público por partida: 42 mil

Depois de uma década de investimentos e incentivos, a Ásia seria sede da Copa do Mundo. Com a chegada de Zico no Japão no começo dos anos 90, o futebol se popularizou no país do baseball. No entanto, mais que explorar o novo mercado deste esporte, era preciso aproveitar a chance de consolidar a reação econômica à crise financeira do fim do século XX. Já o Brasil contava com uma seleção e um candidato à eleição mais carismáticos. O time de Felipão e o país de Lula abriam de fato o novo milênio para o Brasil.


2006

Sede: Alemanha

Participantes: 32

Campeão: Itália

Vice: França

Posição do Brasil: Quartas-de-final

Artilheiro (Gols): Miroslav Klose (5) - Alemanha

Média de Público por partida: 52,5 mil

A preocupação européia com o combate ao preconceito, em suas múltiplas formas, retorna na estigmatizada Alemanha. Uma avalanche de publicidade anti-racista percorre toda a competição. Era a copa da igualdade, mas ainda não era da paz. Sérvia e Montenegro jogavam por um país que havia sido dividido, e o Iraque em guerra não reuniu condições de disputar sua chance de ir a copa. O Brasil nunca fora tão favorito, assim como nunca fora tão vaiado com a eliminação acompanhada de fraco futebol.

30/03/2010

AS COPAS DO MUNDO E OS MUNDOS DA COPA – PARTE 5


MUNDO ESPETÁCULO

O Mercado da Bola (1986, 1990 e 1994)


1986


Sede: México

Participantes: 24

Campeão: Argentina

Vice: Alemanha Ocidental

Posição do Brasil: Quartas de final

Artilheiro (Gols): Gary Lineker (6) - Inglaterra

Média de Público por partida: 46 mil

Apesar do gol de mão de Maradona, foi a primeira conquista legítima argentina. Apesar de mais um vice-campeonato, a seleção alemã ocidental chega a sua quinta final, mostrando os resultados de investimentos capitalistas no esporte. E, no Brasil, a recessão econômica impediu que a competição se realizasse no país. Com a gradativa abertura política soviética, a Guerra Fria deixava de dar o tom na orquestra geopolítica mundial. Com a expansão automobilística nos países do Terceiro Mundo, as nações do oriente médio, grandes exportadores de petróleo, tornaram-se os maestros.


1990


Sede: Itália

Participantes: 24

Campeão: Alemanha Ocidental

Vice: Argentina

Posição do Brasil: Oitavas de final

Artilheiro (Gols): Salvatore Schillaci (6) - Itália

Média de Público por partida: 48 mil

Por mais que a motivação de revanche não seja descartada, a conquista da Alemanha capitalista está intimamente relacionada com as repercussões da queda do muro de Berlim no ano anterior. Durante quase 40 anos o povo e território alemão foram divididos em dois mundos opostos pelo sonho frustrado do socialismo e pela realidade cruel do capitalismo. A vitória alemã celebrou e constatou a vitória do capitalismo na Guerra Fria, ao mesmo tempo em que expôs sua perversidade observada pelas economias frágeis dos países do Terceiro Mundo, tal como o Brasil.


1994

Sede: Estados Unidos

Participantes: 24

Campeão: Brasil

Vice: Itália

Artilheiro (Gols): Salenko (6) - Rússia e Stoichkov (6) - Bulgária

Média de Público por partida: 68,9 mil

A maior Copa do Mundo até hoje. Recorde de público, com mais de 3,5 milhões de torcedores. Seleções de etnias, línguas, culturas e história muito diferentes reunidas na "terra da liberdade". Espetáculo e recorde para cobertura televisiva. O futebol tornou-se o terceiro negócio mais lucrativo do mundo, perdendo somente para o tráfico de armas e drogas. Esta foi a última seleção brasileira composta por atletas que atuam em sua maioria no Brasil.