O espetáculo que nasce em dois minutos ou dois gols.

-Por todos nós-

24/03/2010

A melhora da morte


Já estamos completando um quarto de 2010 e muitas expectativas sobre o futebol vem se revelando grandes frustrações. Esta é uma história triste protagonizada por um talismã, um artilheiro, um torcedor e um fenômeno. Quatro personagens que parecem ter algo em comum.

O talismã

Petkovic terminou a temporada passada eleito um dos melhores, senão o melhor, meia atacante do campeonato brasileiro. E como se não bastasse, tornou-se um dos ícones da conquista flamenguista do hexacampeonato brasileiro. Pet que vinha distante dos palcos do futebol de alto nível voltou ao Flamengo por meio de um acordo financeiro que quitaria as dívidas do clube com o jogador.

O resultado final de 2009 foi excelente para os dois. Poucos meses depois o cenário é outro. Após desentendimento com o vice de futebol Marcos Braz, Pet foi afastado e desde o seu retorno ao time, não tem garantido a titularidade, e tampouco o bom futebol. Por outro lado, antes do entrevero com Braz, o meia sérvio já não estava jogando bem.

O artilheiro

Dodô é o artilheiro dos gols bonitos e faz jus ao nome. São Paulo, Santos, Palmeiras, Goiás, Botafogo, Fluminense e agora Vasco. Um baita currículo, sem dúvida. Sua última passagem mais expressiva havia sido o Botafogo, mas foi no Fluminense, em 2008, que atravessou o momento mais difícil de sua carreira. Pego no doping e suspenso por dois anos. Dodô não se abateu e perseverou.

No dia 24 de janeiro deste ano recebeu sua recompensa. Hat-trick (três gols marcados pelo mesmo jogador) de Dodô contra o Botafogo na goleada vascaína por 6 a 0. Dodô voltou a brilhar e seus gols bonitos eram ansiosamente aguardados pela torcida luso-carioca. A memória do futebol, pra sorte de Dodô, havia preservado a imagem do artilheiro dos gols bonitos. Mal sabíamos que as lembranças do Dodô no Santos, sobretudo, retornariam com força máxima. Há duas semanas, na derrota vascaína para o Flamengo, o goleiro rubro-negro Bruno pegou dois pênaltis batidos por Dodô. O artilheiro dos gols bonitos e dos pênaltis perdidos faz jus ao nome.

O torcedor

Ídolo incontestável. Querido pelas torcidas rivais, inclusive. Exemplo de simpatia em meio às inacessíveis celebridades do futebol. Humilde nas falhas que comete e sincero nas críticas que aponta. O herdeiro legítimo de uma linhagem fina de guardametas palestrinos e eterno "São Marcos" de todos brasileiros que assistiram a Copa do Mundo de 2002. Marcos é incontestável.

Viveu uma carreira completa de lesões. Por isso não teve chances de chegar perto de Leão que chegou a marca de 617 partidas disputadas com a camisa do palmeiras. Mas Marcos foi fiel, ainda que seja uma palavra complicada no manto verde. Marcos é incontestável. Leão vestiu o rival alvinegro em 1983. Marcos nunca abandonou o Palmeiras, mesmo diante do rebaixamento. No último ano, parecia que finalmente o Palmeiras sairia de uma fila de 10 anos sem títulos expressivos – o Palmeiras ganhou os extintos Rio-SP e Copa dos Campeõs em 2000, e o Paulistão de 2008 – com atuações eficientes e seguras, sobretudo pelo bom campeonato que o experiente arqueiro desempenhava. Mas o Palmeiras patinou, derrapou, saiu da pista e não conseguiu se reencontrar e acabou nem se classificando para a disputa da Taça Libertadores da América. A qualidade do goleiro Marcos acompanhou a qualidade do time. E acima de tudo, Marcos tem se desequilibrado, enfrentado críticas com muita agressividade e despejando reclamações para todos os lados, inclusive seus companheiros de clube. Agora, no campeonato paulista de 2010, o Palmeiras só se classifica para as semifinais com um milagre improvável. Desta vez o São Marcos não tem como salvar os alviverdes. Desta vez, é só Marcos mesmo, e ele, apesar de ser o torcedor palmeirense em campo não é mais tão incontestável.

O fenômeno

O maior artilheiro das Copas. Campeão do Mundo. Campeão europeu, espanhol, holandês, mineiro, paulista e da Copa do Brasil. Quase 500 gols e uma coleção de lesões, polêmicas e reviravoltas. 2009 seria um ano fenomenal. E foi. Até 1 de julho. Talvez um pouco mais, mas não muito mais. Data a final da Copa do Brasil, o primeiro troféu nacional de Ronaldo e o objetivo do Corinthians de 2009 cumprido: a vaga para a disputa da Taça Libertadores da América de 2010, no ano do centenário do clube.

Ronaldo foi decisivo no primeiro semestre do ano passado. Convincente e eficiente. Na reta final do campeonato paulista, fez até gol de placa. O "Ronaldo Gordo" deixou de ser uma ofensa agressiva e passou a compor o repertório da fala dos torcedores corinthianos com certo ar de deboche com os adversários: "não agüentam o pique do gordinho?", ou "mesmo gordo ele é o fenômeno!". Assim se viu até a disputa do brasileiro do mesmo ano. Junto com o Corinthians, Ronaldo foi burocrático e só não terminou em frustração maior o fim de 2009 porque a expectativa e o discurso de todo o Corinthians e o Ronaldo girava em torno "da conquista da América no ano do centenário". O ano de 2010 chegou e Ronaldo marcou somente 1 gol, no sofrível empate por 1 X 1 com o Mirassol jogado no Pacaembu. Mais que isso, o time não deslanche, é verdade. Mas o decisivo e fenomenal jogador participa pouco do jogo, erra passes, domina com lentidão, e o pior, perde gols, muitos gols.









Todos estes personagens tem algo em comum. A idade. 37, 35, 36 e 33. Muito se falou sobre os veteranos do futebol e quanto ainda eles ainda poderiam render em alto nível. Não há dúvida que a idade não é fator determinante para o bom rendimento do atleta. Rogério Ceni, com 37 anos, mantém boa regularidade e não deve deixar os gramados tão cedo. Zidane protagonizou uma final de copa do mundo com 34 anos. No entanto, estes atletas que vinham de um ostracismo boleiro, e deram a volta por cima, parecem não conseguir manter o brilho que os tirou das trevas do esquecimento ou da fosca desconfiança. Parecem ter dado um último suspiro, o último esforço pela glória. Alguns até conseguiram algum crédito, ainda que temporário. Outros nem isso. É com muito pesar que vejo estes ídolos se despedindo do futebol. Tomara que eu esteja errado.


2 comentários:

RodriGol disse...

Muito bacana, isso me fez imaginar como seria o possível "ciclo de vida" da carreira dos craques. futebol.
Surgimento, promessa, craque, atinge o auge(cada vez mais cedo, haja vista, Kaká, Messi, C.Ronaldo), começa a decrescer, ostracismo, aí viria a "melhora da morte", como você bem colocou, para então despedir-se do futebol.
Um nome que surgiu na minha mente agora foi o de Ronaldinho Gaúcho, 30 anos, completados recentemente. Considerando as fases do ciclo que enumerei de forma rápida, diria que ele está na decrescente. Mas já estou pensando no que ele pode aprontar quando estiver no estágio da "melhora da morte".
Parabéns pelo blog.
Estou organizando novamente o meu, passei um período sem postar.
Farei uma lista de blogs que recomendo e certamente o seu estará entre eles.
Um abraço!

Marco Lourenço disse...

Tem razão nas comparações. Talvez eu esteja sendo cruel demais com os veteranos. Por outro lado, é inegável a baixa condição técnica apresentada pelos citados.
Agradeço o comentário, e seja bem vindo!
Grande abraço!

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